Devagar....
Os dois dormiam sentados, um ao lado do outro. Dormiam com uma comodidade de décadas de sono.
O calor, a casa que os acolhera a mais de quarenta anos a parar o sol da tarde, deixando passar pelas persianas da janela o vento quente que traz a preguiça e a moleza.
Eles a cochilarem, os cabelos brancos, as cabeças encostadas. Se por acaso dissessem que os pegaram dormindo no sofá, negariam categoricamente. Estavam "descansando a vista".
O mundo passava, caminhava do lado de fora da casa. As pessoas, carros, ônibus a passarem e eles alheios a tudo isso, com um relógio de horas diferentes, com ponteiros a se moverem segundo suas próprias leis.
Penso no tempo que os observo cochilar, ao acordarem quando os netos chegam ao final da tarde. Bem acolhidos nos braços dos avós, com cheiros, beijos.
Os brinquedos espalhados, eles a se fazerem de aprendizes das descobertas mirabolantes das crianças, compartilhando das mesmas surpresas diante do óbvio.
Eu observo e escrevo o tempo.
Lá fora o mundo corre, apressado. Lá dentro há pressa, de carinho.
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