confusão de ideias
Sinto a melancolia vindo do oboé
quarta-feira, 30 de julho de 2014
Não se pode esquecer
Qualquer esquecer é temporário. Você pode esquecer as chaves do carro, esquecer de pagar uma conta, você pode esquecer até de buscar seu irmão mais novo na escola. Mas uma hora ou outra, você vai acabar lembrando que esqueceu. Vai dar por falta, vai voltar pra buscar. Por isso, eu acredito que esquecer alguém talvez não seja possível, isso nunca vai acontecer. Você pode esquecer durante uma conversa, ou enquanto faz uma prova importante, você pode esquecer quando estiver beijando outra pessoa… Mas depois, minutos, horas ou anos depois, alguma coisa vai te fazer lembrar. A vontade pode diminuir, as piadas que antes pareciam engraçadas, podem não ser mais. A saudade pode desaparecer como se nunca tivesse existido. Esquecer? Esquecer não dá, não se pode esquecer o que já conheceu, já sentiu, ou gostou. Entende o que eu quero dizer? Todo esquecer é temporário, ele só dura até se lembrar outra vez.
segunda-feira, 28 de julho de 2014
Volta
Lembrei de você quando cheguei em casa hoje cansado. Lembrei do dia em que você me trouxe um casaco pois eu estava morrendo de frio. Também lembrei dos dias que você se deitava comigo pra apreciar um belo filme depois do trabalho. Acabei relembrando o dia em que você cuspiu água no meu rosto enquanto eu almoçava, sempre boba e brincalhona.
A casa está fria. Você sempre foi o aquecedor da minha vida inteira, mas parece que eu te quebrei dessa vez.
Onde você está? Todos vivem falando que você está com outro cara. Mas eu não entendo, pois se eu destrui suas peças, então eu mesmo irei concerta-las. Não pedi a ninguém que fizesse.
Volta pra mim, vem pra casa pois prometo tirar todos os seus parafusos, olhar peça por peça, remontar todos os pequenos detalhes até encontrar o defeito que lhe causei e concerta-lo, mesmo sabendo que uma coisa quebrada nunca volta a ser como era antes.
Eu te amo, volta.
A casa está fria. Você sempre foi o aquecedor da minha vida inteira, mas parece que eu te quebrei dessa vez.
Onde você está? Todos vivem falando que você está com outro cara. Mas eu não entendo, pois se eu destrui suas peças, então eu mesmo irei concerta-las. Não pedi a ninguém que fizesse.
Volta pra mim, vem pra casa pois prometo tirar todos os seus parafusos, olhar peça por peça, remontar todos os pequenos detalhes até encontrar o defeito que lhe causei e concerta-lo, mesmo sabendo que uma coisa quebrada nunca volta a ser como era antes.
Eu te amo, volta.
sábado, 26 de julho de 2014
Sei lá
Não sei, é como se fosse um pedido arbitrário da minha própria consciência: Refletir sobre o vazio, para ver se ele reflete algo. E ele reflete tanta coisa ao mesmo tempo que não dá para fazer uma síntese, retalhar nas folhas. O que as pessoas leem nesses textos não passa de uma porcentagem ínfima do que realmente se passa por dentro de mim, mesmo os escritos de forma totalmente factual. O vazio parece pequeno aos olhos de quem não o sente, mas os que o sentem, percebem que ele é paradoxamente gigante demais para conseguirmos fazer pequenas análises, pequenas descrições, poucas deduções, por isso há essa dificuldade de descrevê-lo de forma curta. Os que tentam explicá-lo de forma ampla, com muitas vertentes, não conseguem alcançar a total compreensão de muita gente, porque até o vazio e os seus sinônimos são relativos: uns se dão bem com ele; outros, não. Uns conseguem entender e acham ele digno de reflexão; outros, não. Uns o acolhem e os carregam pela vida; outros, não. E há os que não tiveram chance de escolha entre viver cercado pelo vazio e viver de forma plena: os que foram predestinados pela natureza à injustiça da vida que proclama o ódio contra os que não sabem lidar com ela.
terça-feira, 20 de maio de 2014
Eu entendo.
Querido,
Eu entendo o que está passando, que sente-se mal, como se nunca fosse passar, sei que pra você os dias já não tem sentido, que aí dentro está tudo obscuro e que a luz que dizem estar no fim do túnel está difícil de encontrar; já passei por isso tantas vezes, e presumo o quanto que está difícil ter que sobreviver todos os dias com isso, fingindo sorrisos, fingindo estar bem. Te peço perdão por não poder estar com você, pra limpar as tuas lágrimas, pra te levantar quando cair; peço inúmeras desculpas. Mas saiba que, por mais que você esteja a quilômetros e mais quilômetros de mim, eu sempre estarei te vigiando, te cuidando, te amando. Mesmo você não vendo, não sabendo ou não sentindo. Serei como seu anjo da guarda.
Eu entendo o que está passando, que sente-se mal, como se nunca fosse passar, sei que pra você os dias já não tem sentido, que aí dentro está tudo obscuro e que a luz que dizem estar no fim do túnel está difícil de encontrar; já passei por isso tantas vezes, e presumo o quanto que está difícil ter que sobreviver todos os dias com isso, fingindo sorrisos, fingindo estar bem. Te peço perdão por não poder estar com você, pra limpar as tuas lágrimas, pra te levantar quando cair; peço inúmeras desculpas. Mas saiba que, por mais que você esteja a quilômetros e mais quilômetros de mim, eu sempre estarei te vigiando, te cuidando, te amando. Mesmo você não vendo, não sabendo ou não sentindo. Serei como seu anjo da guarda.
segunda-feira, 6 de maio de 2013
O tempo
Devagar....
Os dois dormiam sentados, um ao lado do outro. Dormiam com uma comodidade de décadas de sono.
O calor, a casa que os acolhera a mais de quarenta anos a parar o sol da tarde, deixando passar pelas persianas da janela o vento quente que traz a preguiça e a moleza.
Eles a cochilarem, os cabelos brancos, as cabeças encostadas. Se por acaso dissessem que os pegaram dormindo no sofá, negariam categoricamente. Estavam "descansando a vista".
O mundo passava, caminhava do lado de fora da casa. As pessoas, carros, ônibus a passarem e eles alheios a tudo isso, com um relógio de horas diferentes, com ponteiros a se moverem segundo suas próprias leis.
Penso no tempo que os observo cochilar, ao acordarem quando os netos chegam ao final da tarde. Bem acolhidos nos braços dos avós, com cheiros, beijos.
Os brinquedos espalhados, eles a se fazerem de aprendizes das descobertas mirabolantes das crianças, compartilhando das mesmas surpresas diante do óbvio.
Eu observo e escrevo o tempo.
Lá fora o mundo corre, apressado. Lá dentro há pressa, de carinho.
Os dois dormiam sentados, um ao lado do outro. Dormiam com uma comodidade de décadas de sono.
O calor, a casa que os acolhera a mais de quarenta anos a parar o sol da tarde, deixando passar pelas persianas da janela o vento quente que traz a preguiça e a moleza.
Eles a cochilarem, os cabelos brancos, as cabeças encostadas. Se por acaso dissessem que os pegaram dormindo no sofá, negariam categoricamente. Estavam "descansando a vista".
O mundo passava, caminhava do lado de fora da casa. As pessoas, carros, ônibus a passarem e eles alheios a tudo isso, com um relógio de horas diferentes, com ponteiros a se moverem segundo suas próprias leis.
Penso no tempo que os observo cochilar, ao acordarem quando os netos chegam ao final da tarde. Bem acolhidos nos braços dos avós, com cheiros, beijos.
Os brinquedos espalhados, eles a se fazerem de aprendizes das descobertas mirabolantes das crianças, compartilhando das mesmas surpresas diante do óbvio.
Eu observo e escrevo o tempo.
Lá fora o mundo corre, apressado. Lá dentro há pressa, de carinho.
Domingo
É domingo. A canção das dez chega pela varanda do pequeno apartamento.
Folheio as páginas do livro enquanto o sol entra gradualmente pela sala, esquentando o que restou da noite sem chuva.
Escuto a canção das dez, que esquenta tanto quanto o sol. Não sei cantar, assobio
Recosto no sofá, já sem ler. Fecho os olhos e sinto o calor do sol que ilumina a sala como um holofote que surge por detrás das grades da varada.
A canção das dez entra pelo apartamento, preenchendo cada quarto, entrando pelas frestas das portas, pela cozinha com seus pratos do jantar de ontem sobre a pia, esquentando o que sobrou do café na chaleira sobre o fogão.
Penso em viajar. Penso no mar.
Estou confortável comigo mesmo, olhando o mundo inteiro da varanda, respirando a canção das dez.
Ela se vai de fininho, sem se perceber.
Volto a ler, e penso em escrever.
Folheio as páginas do livro enquanto o sol entra gradualmente pela sala, esquentando o que restou da noite sem chuva.
Escuto a canção das dez, que esquenta tanto quanto o sol. Não sei cantar, assobio
Recosto no sofá, já sem ler. Fecho os olhos e sinto o calor do sol que ilumina a sala como um holofote que surge por detrás das grades da varada.
A canção das dez entra pelo apartamento, preenchendo cada quarto, entrando pelas frestas das portas, pela cozinha com seus pratos do jantar de ontem sobre a pia, esquentando o que sobrou do café na chaleira sobre o fogão.
Penso em viajar. Penso no mar.
Estou confortável comigo mesmo, olhando o mundo inteiro da varanda, respirando a canção das dez.
Ela se vai de fininho, sem se perceber.
Volto a ler, e penso em escrever.
segunda-feira, 29 de abril de 2013
Ê calor
Leio um livro ao balançar de um ônibus. O calor absurdo de ventos quentes a entrar pela janela do ônibus, suado.
Tenho que descer do ônibus para esperar outro ônibus, livro na mão. O Suor a escorrer na testa, gotas grossas a deixar os cabelos levemente úmidos, logo secos pelo vento da Conde de Bonfim.
Entreguei meus pontos, me sinto um derrotado, parado no calor do Rio de janeiro, de mochila e livro na mão a esperar o próximo ônibus. Sinto-me novamente como um estrangeiro. Sozinho.
Sozinho pego o próximo ônibus, volto a folhear o livro, fantasiando as mais diversas situações do meu dia-a-dia, como herói e vilão das coisas que me são alheias, as quais o tempo se encarrega de levar embora. Passo pelas avenidas, olhando as pessoas apressadas para diferentes tipos de tarefas. Que calor, um pingo de suor da minha testa cai sobre meu livro, e não me dei o trabalho de enxugar, leio mesmo assim.
Orgulhoso e derrotado, personagem do meu próprio cotidiano sentado a ultima cadeira do ônibus vazio, com sede. Respiro e encontro dentro de mim mesmo um momento de calma, consigo relaxar durante alguns minutos e consigo me animar. Em um animo triste de meio de tarde, um ânimo de quem vê rápido que todos nos somos feitos pra acabar.
Desço de meu ônibus, sozinho, e consigo olhar pra frente e seguir meu caminho. Consegui achar alguns trocados dentro de minha mochila, que nesse ponto estava encharcada de suor, e comprei uma água gelada. O gosto da água gelada conseguiu afastar toda a aridez da tarde. Ela doce a descer esfriando minha garganta enquanto sinto o suor escorrer pela minha nuca, dos meus cabelos pesados e úmidos até o colarinho branco de minha camisa.
Agora, sentado na praça saens pena, imagino a distancia a percorrer pra voltar pra casa. Consigo imaginar cada gota do meu banho de quando eu chegar, cada gole do café que vou tomar e cada mordida do meu pão, mas ainda sim.. Vou estar com meu belo e lindo livro, em minhas mãos.
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